Inicialmente me pegou pela polêmica em torno da questão do suicídio, mas já do segundo minuto em diante me pegou por ela mesma. Eu gostei muito! E recomendo a todos os pais, professores, educadores e adultos em geral, minimamente interessados em olhar com cuidado, amor e generosidade para a adolescência no mundo de hoje. Na verdade para a adolescência de uma forma geral, hoje com cores mais berrantes, a meu ver, típicas do mundo em que vivemos.
Como falei acima, não sou qualificada para fazer uma análise crítica do ponto de vista técnico, artístico ou de produção e apesar de ter gostado muito da série em si, estou aqui para comentar sobre o conteúdo: o espinhoso tema adolescer, que na minha opinião é o tema central da série. E não necessariamente o suicídio em si.
Fiquei super impactada com a história, seus personagens, vivências e dramas. E tudo ficou reverberando em mim por dias... Talvez porque eu tenha um filho de 13 anos e o tema adolescer tem mexido muito comigo, evidentemente.
Só vivenciando essa fase com meu filho me dei conta de que adolescente = vergonha. Meu Deus, que judiação. Eles sofrem. Muito. Por tudo e qualquer coisa. São extremamente sensíveis e vulneráveis. Já não são nossos bebês que podem ser protegidos e assegurados de que tudo vai dar certo. Ainda não têm vivência de vida suficiente para saber que sim, tudo vai dar certo, de um jeito ou de outro. Estão à mercê de experiências, opiniões e acontecimentos para os quais não tem ainda repertório suficiente para lidar com. E já não contam com os pais para dar-lhes essa ajuda. Não querem contar. Natural.
E a escola, ah a escola... é um ambiente hostil e cada vez mais - generalizando é claro - liderado por pessoas que não se comprometem, não estão ali para de fato apoiá-los, representá-los, compreendê-los nas suas individualidades e diferenças. Uma escola que não tem espaço para o aprendizado das emoções, das relações, dos valores e bases que nos constituem. Até quando?
Ouvi vários comentários por aí sobre o fato de que nossas escolas eram iguais e que também sofremos muito bullying na adolescência. OK, minha adolescência não foi nada fácil, nada mesmo. Pode perguntar para minha mãe! :) Na minha visão, simplesmente porque adolescer é punk mesmo. Mas foi bem longe do que vi sendo retratado ali e que vi claramente acontecendo em escolas por onde meu filho já passou. Vejo muita diferença na escola em que hoje estamos.
Analisando sob o ponto de vista junguiano, onde para cada força radicalizada na consciência nasce uma força oposta de mesma intensidade na inconsciência; vejo no contexto contemporâneo do politicamente correto, da perfeição, da rigidez e padronização sem limites, o crescimento de maneira acentuada da agressividade, raiva, "sujeira" e caos. E sinto que de alguma maneira, são os adolescentes - talvez a fatia mais vulnerável da nossa sociedade - os que estão pagando o preço mais alto dessa história.
Para mim, a série coloca em lentes de super aumento a seguinte questão: até quando vamos nos conformar em viver numa sociedade que não nos permite ser quem somos, com liberdade e verdade, colocando no mundo nossa melhor versão, e com isso, dando liberdade ao outro para fazer a mesma coisa?? Até quando vamos priorizar o ter, o parecer ser, do que o SER de fato??
O que eu sei é que é preciso muita coragem para reverter essa equação e sei também que quem tem a coragem de arriscar já está vivendo essa nova possibilidade de vida! Desejo de coração que mais gente possa enxergar essa faceta que a série mostrou para mim. E desejo também que os pais e as escolas reflitam junto com seus adolescentes esses temas que a série propõe!
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